Tuesday, September 14, 2004

Il Postino

Posted by Hello

“E foi nessa idade...Que a poesia me procurou. Não sei de onde.

Veio do Inverno, ou de um rio

Não sei como, nem quando.

Não, não eram vozes, não eram palavras, nem silêncio.

Mas fui intimidado por uma rua, pelos ramos da noite.

Abruptamente, entre os outros, entre violentos fogos ou regressando sozinho.

Ali estava eu sem rosto

e ela tocou-me”

Pablo Neruda

O amor é a essência, e a poesia a semente, Mario Ruopollo, filho de um pobre pescador que o pressiona a arranjar emprego, recebe uma carta dos seus dois irmãos que emigraram em busca de melhores condições de vida. A perspectiva de melhores condições de vida no exterior atrem-no, mas é nesta pacata ilha Italiana_Capri_que Mario desabrocha para as maravilhas do seu universo e desenvolve o seu espírito crítico para situações que visam a exploração social dos habitantes da ilha.

É através do cine-jornal que chega a notícia que Pablo Neruda_poeta do povo_ em consequência da sua militância no partido comunista Chileno é expulso do seu país e decide pedir exílio a Itália. Seduzido pelo mar, Neruda e a sua amante Matilde Urrutia optam por uma casa na ilha de Capri. É nesta casa que Mario irá travar conhecimento com Neruda e aguçar a sua sensibilidade poética.

Com a chegada a Capri de Pablo Neruda, o chefe da estação de correio local contrata um carteiro— Mario Ruopollo que todos os dias irá com a sua bicicleta entregar as cartas dirigidas ao poeta e gradualmente estabelecer uma relação de amizade que lhe irá abrir novos horizontes e marcar a sua vida irremediavelmente.

É na tasca local, ponto de encontro da ilha, que Mario vislumbra o Amor, pela primeira vez, num jogo de matraquilhos, o seu olhar perde-se na harmonia e volúpia de Beatriz, filha da rígida dona da tasca, deixando o jogo para segundo plano. Seduzido pela bela Beatriz logo procura Neruda, para este escrever poemas para a sua Beatriz, Neruda recusa e dá-lhe um caderno onde Mario poderá transpor a sua essência através dos seus próprios versos.

Beatriz seduzida pelos poemas e metáforas de Mario, é constantemente controlada pela sua mãe, Donna Rosa, que não aprova a sua relação, chega mesmo a ameaçar que se Mario continuar a procurá-la lhe dará um tiro. Todas estas nuvens tempestuosas irão ser dissipadas, Neruda como padrinho, Mario e Beatriz como noivos, toda a ilha comemora a união entre os dois, entretanto Pablo Neruda recebe a notícia pela qual ansiava desde que chegou, finalmente podia regressar ao seu país.

Passam-se anos e Neruda não mais dá notícias, torna-se então evidente o apego e a dependência inerente à condição humana, Beatriz e Donna Rosa criticam-no por este ter enviado uma carta impessoal a pedir que lhe enviassem alguns objectos pessoais. Mario relembra-se então de um episódio com o gravador no qual Beatriz dominava todos os encantos da ilha, inconscientemente vai gravar, com o intuito de relembrar ao seu camarada, todas as maravilhas intemporais da sua ilha pela última vez, acrescidas agora com o bater de coração de Pablito o seu futuro filho, o qual ainda irá conhecer o poeta chileno.

Paralelamente a esta história de amor desenrola-se outra, na qual Mario desenvolve valores sociais relacionados com o comunismo, entrando em confronto com o candidato a presidente que se irá aproveitar da ingenuidade do povo prometendo bens básicos de forma a obter votos. Mario fica conhecido no universo comunista e é convidado a recitar o seu poema, dedicado ao seu camarada Pablo Neruda, numa manifestação pró-comunista abate-se a negra nuvem da morte com a carga da polícia de intervenção.

Análise da Cena

Início ~ 1h27m36s

Duração ~7m

Fim ~ 1h34m36s

Surge um reflexo escuro no rio, através de uma panorâmica associada a um movimento de grua no sentido ascendente vislumbramos a imagem do andor segurado por Mario nessa noite, Nossa Sra das Dores, enquadrada num plano médio, surge como forte indice da fatalidade que se irá abater sobre Mario.

No intuito de ir buscar os objectos pessoais, Mario, enquadrado num plano americano, revisita a silenciosa casa de Pablo Neruda, silêncio apenas quebrado pelo abrir da porta. Segue-se um lento plano subjectivo de Mario, que capta no seu silencioso olhar, uma atmosfera envolvida num ambiente saudoso. Mario, surge imóvel enquadrado no mesmo plano americano de à pouco, apenas o seu olhar se havia deslocado. Através de um travelling à direita vê-mos Mario a caminhar em direcção ao gira-discos, quebra-se o silêncio, ouve-se o disco que Mario escolhêra. A música ilumina a memória de Mário transpodo-a para o plano físico, através de um plano de conjunto revêmos Neruda e Matilde a dançar, até serem ocultados pela parede da sala em direcção ao exterior. Através de um plano geral seguido de subjectivo, apercebemo-nos que Mario os havia seguido com a esperança que tudo fosse real, o olhar saudoso deste é transmitido através de um travelling à direita que percorre o exterior da casa até transparecer a saudade e vontade de um dia voltar a ver o seu companheiro.

Mario reentra em casa, enquadrado num plano inteiro desliga a música, regressa então o profundo silêncio, que apesar de ter sido quebrado sempre esteve presente ao longo deste flash-back. Deslocando-se no peso deste silêncio Mario, enquadrado num plano médio, aproxima-se da secretária de Pablo Neruda, a panorâmica no sentido descendente acaba no plano pormenor da sua mão que percorre vagarosamente os objectos que Neruda tinha sobre a secretária, parando sobre o gravador, Mario coloca a cassete gravada por ambos acariciando o gravador como se estivesse a sentir a presença do seu amigo. Enquanto a câmara enquadra um plano próximo da secretária e do gravador ouve-se a voz de Neruda como pano de fundo, Mario aproxima se da cadeira e fecha suavemente o livro de Neruda, senta-se no momento que ouve a sua voz, é numa lenta panorâmica para cima que se desenrola a cassete, o movimento de câmara acaba num zoom in até grande plano de Mario que sorri, pois relembra-se da maravilha da sua ilha: Beatriz Russo.

O ambiente e enquadramento do plano seguinte, é-nos dado a conhecer lentamente através de uma panorâmica à direita, Mario e o seu amigo, chefe da estação dos correios, estão a unir fios junto da secretária onde se encontra o gravador. Mario questiona-se se funcionará no exterior. Vislumbra-se realmente o que se passa com um plano geral, os dois testam e preparam-se para levá-lo para o exterior...

Os dois encontram-se à beira mar, o seu amigo encarrega-se da operação do gravador enquanto Mario grava. Plano geral seguido de uma panorâmica à direita descendente, desde o seu amigo até ao plano pormenor da mão de Mario a gravar a rebentação das “Pequenas Ondas na Caletta di Sotto”. É então classificada por Mario, enquadrado num muito grande plano, como a 1a maravilha da ilha.

No plano seguinte o seu amigo encontra-se a segurar o equipamento de gravação enquanto Mario grava a “Rebentação das Ondas Grandes” sobre as rochas, um pouco mais abaixo, de forma a aumentar a intensidade de som e o pormenor visual através de uma panorâmica descendente à esquerda aproximamo-nos da futura 2a maravilha da ilha, classificada de novo com um muito grande plano de Mario.

Mais uma vez o olhar da câmara dirige-se no sentido onde se encontra a maravilha a ser gravada, uma panorâmica para cima e à direita indica-nos que a 3a maravilha da ilha é o Vento nos Rochedos, indicada de novo por Mario, enquadrado num muito grande plano, que dirá qual será a 4a maravilha, no decorrer da gravação desta: o “Vento Sobre os Arbustos”.

O plano pormenor das redes a serem puxadas para o barco, e o seu barulho oco contra o casco do navio, remete-nos para a 5a maravilha: “As Redes Tristes do Meu Pai”.

O plano seguinte, transporta-nos para uma visão geral do campanário da igreja onde os sinos tocam e o padre pergunta se eles já conseguiram gravar o som dos sinos, é-nos assim dada a conhecer a 6a maravilha: “Campanário de N. Sra das Dores / com padre”.

A 7a maravilha da ilha: as estrelas que iluminam a noite, transmitida por um amplo plano geral, e pela atenta afirmação que muitos vezes não estamos atentos à beleza que nos envolve. Mário atribui-lhe o nome de “Céu Estrelado da Ilha”.

A maravilha seguinte é o som do bater de coração de Pablito, seu futuro filho, começando por um plano geral, seguido de uma panorâmica à direita até Beatriz e de outra para baixo até à cabeça de Mario, encostada na barriga junto ao “Coração de Pablito”, gravado como sendo a 8a Maravilha.


4 Comments:

Blogger Lídia Aparício said...

"o carteiro do pablo neruda" é o filme mais bonito que eu já vi sobre a amizade. na verdade, se falarem de filmes sobre amizade, eu aponto logo esse como primeiro. gosto muita da cena em que pablo grava os sons das ondas, do vento, do céu estrelado, da barriga grávida da mulher,.. é muito poético.

lídia
http://errancia.blogspot.com/

September 16, 2004 at 8:22 AM  
Blogger tvd said...

Eu escolhi exactamente essa cena para analisar como sendo a que achei de maior importância para o filme. Mando-te para o email.

September 16, 2004 at 11:35 AM  
Blogger tvd said...

acabei por publicar aqui no blog:)

September 16, 2004 at 11:43 AM  
Blogger Lídia Aparício said...

eina, isso é que é uma análise, com referência aos planos e tudo. :-)

September 17, 2004 at 5:42 PM  

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